Ballet Mécanique é, originalmente, uma composição do músico Georges Antheil, para a qual procuraram criar posteriormente um acompanhamento cinematográfico. Devido a dificuldades técnicas de sincronização, e algumas discordâncias (a versão original da música de Antheil tinha 30 minutos de duração, enquanto o filme tinha apenas 16), em Outubro de 1924 o filme foi exibido pela primeira vez sem som, no âmbito da exposição “Neuer Theatertechnik”, no Kunsthandlung Würthle & Sohn, em Viena.

Em Junho de 1926, Antheil reescreveu a música, criando uma obra musical futurista, representativa da arte da era mecânica introduzida pelos futuristas italianos, que afirma a primazia da estrutura rítmica, através da utilização de oito pianos, um piano mecânico, oito xilofones, duas campainhas eléctricas e uma hélice de avião.

A primeira apresentação do filme e da música em simultâneo aconteceu apenas em 2000, no Cultuurmarkt van Vlaanderen, em Antuérpia, Bélgica. A cópia sonorizada do filme foi criada por Paul Lehrman.

Ballet mécanique, ou Charlot présente le ballet mécanique, surge no contexto da provocadora deuxième avant-garde, que se desenvolveu no cinema francês entre 1923 e 1924, influenciada pelo espírito Dada e pelo Surrealismo. É neste contexto que o fotógrafo Man Ray e o pintor Fernand Léger (formado pelo Cubismo), começam a dedicar-se à criação de filmes experimentais.

O filme foi realizado em colaboração com o cineasta americano Dudley Murphy (1897 – 1968), especializado na sincronização entre imagens e música, com fotografia de Man Ray (1890 – 1976), e com a participação de Katherine Murphy, Kiki (1901-1953) e do próprio Dudley Murphy.

Léger aplicou ao cinema o programa definido pela sua pintura, que consistia na exploração da oposição sistemática de elementos pictóricos para a criação de telas dinâmicas. Encarregou-se da realização do «primeiro filme sem cenário», como gostava de sublinhar, seguindo o mesmo princípio, a criação de fortes contrastes através da montagem, que evocam a intensidade da vida e chocam a sensibilidade de um público ainda muito convencional.

Objectos banais (como utensílios de cozinha ou chapéus), em close-up, são repetidos, reenquadrados e manipulados a um ritmo vertiginoso, o movimento do mundo. Encontram-se em permanente vai-vem, aproximando-se e afastando-se de nós, transportando-nos para o mesmo espaço hipnótico que habitam – o universo da máquina, o automóvel, o carrocel, as escadas. Estes elementos que povoam o filme, individualmente ou em grupos de três, vão-se transformando em formas geométricas (círculos e triângulos), e as suas cores são sucessivamente alteradas, enquanto todos os outros elementos se mantém a preto e branco.

Charlot, um boneco articulado movimenta-se no início e no final do filme. Nestes dois momentos surge também uma outra figura, uma mulher sozinha num jardim, que constitui um elemento distanciado e contrastante com a natureza caótica de todas as outras imagens. O rosto de Kiki vai surgindo sempre fragmentado, olhos e lábios que abrem e fecham, e há ainda um loop de uma outra mulher que sobe a escada.

No meio do filme surge também o texto: “On a volé un collier de perles de 5 millions”, como pretexto para a criação de jogos visuais a partir da palavra, através de diferentes combinações. A rotação horizontal e vertical de algumas imagens, e a sua multiplicação através de jogos de espelhos, contribui para a criação deste efeito de bombardeamento visual, sublinhado pelo ritmo acelerado da música, na qual um som estridente de surge de forma repetida, mantendo-nos num estado de alerta permanente.

BIBLIOGRAFIA

-       DAVIS, Bem Howell, Ballet Mécanique, http://www.mit.edu/~bhdavis/BalletMech.html

-       JEANCOLAS, Jean-Pierre, Histoire du Cinéma Français, Armand Colin, 2007

-       KUENZLI, Rudolf E., Dada and Surrealist Film, Massachussets, The MIT Press, 1996

-       Le Ballet mécanique, http://www.centrepompidou.fr/education/ressources/ENS-leger/ENS-leger.html

-       Montage: Du Fragment à l’Assemblage, http://www.centrepompidou.fr/education/ressources/ENS-mouvement_images/ENS-mouvement-images.htm

-       RICHTER, Hans Georg , Dadá: Arte e Antiarte, São Paulo, Martins Fontes Editora, 1993


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