No âmbito da disciplina de Som e Imagem decidi trabalhar o filme Les Vacances de Monsieur Hulot do realizador Jacques Tati. A partir dele pretendo demonstrar a importância dos sons no cinema: da sua grande capacidade de espacialização, de enfatização das imagens…

Este filme de 1953 conta as aventuras do despistado Monsieur Hulot, desempenhado pelo próprio Jacques Tati, em férias numa estância balnear francesa. O quotidiano dos hóspedes do Hôtel de la Plage são “vítimas” dos mal entendidos deste personagem. Logo no início do filme ouve-se um carro ruidoso que anuncia a chegada do Monsieur Hulot. No momento em que entra no hotel instaura logo a confusão. Depois assistimos ao desenrolar de situações por ele provocadas como o ténis coreografado, o barco partido…

Esta personagem alta e recta com o seu característico cachimbo, apesar de ser autor das mais diversas confusões, consegue a admiração e simpatia de todos.

Neste filme o realizador tentou contrariar o verbo-centrismo do cinema. A personagem do Monsieur Hulot fala muito pouco. Existe quase que uma dificuldade em falar. Podemos ver isso numa das cenas iniciais, quando ele chega ao Hotel e na recepção lhe perguntam o nome. A acção de falar nessa cena está condicionada, pois ele tem o cachimbo na boca e não o tira, porque tem as mãos ocupadas com as malas.

São os objectos, os sons que falam. Eles ganham aqui um estatuto de personagem: som do vento, da porta, da praia (das ondas e das crianças a brincar), do rádio… O som ajuda a enfatizar essas situações.

Aqui é dada uma especial atenção ao som. Nós capturamos melhor o som do que as imagens. Isto, porque a audição é omnidireccional. Nós não podemos ver o que está atrás de nós, mas podemos ouvir tudo à nossa volta. Já a visão é parcial e direccional, tal como o cinema. Em suma, nós ouvimos a 360º, mas o nosso campo visual é apenas 180º.

Os filmes podem mostrar-nos um espaço vazio e dar-nos a voz de alguém que supostamente está em cena, mas fora da frame.

Um aspecto presente neste filme é o acusmático. O som acusmático acontece quando estamos a ouvir um som, mas a sua origem não é visualizada. Ele tem o poder de trazer para dentro de cena o que está fora. Neste filme encontramos várias situações destas.

Por exemplo, na cena onde o Monsieur Hulot está a jogar ping pong numa sala do hotel, nós não vemos o jogo nem a bola, mas ouvimos o jogo, pois ouvimos a bola a bater.

O meu objectivo com este trabalho é demonstrar o contributo do som neste filme e a relevância da sua relação com a imagem.

Bibliografia:

- The Voice in Cinema, de Michel Chion

- “6º Lição – A percepção sonora”, de João Mário Grilo, in As lições do cinema: Manual de filmologia,  Lisboa, Edições Colibri, 2007, pp. 41-46.

- JULLIER, Laurent, El sonido en el cine, Barcelona, Editorial Paidós, 2007 (Le son au cinéma, Paris, Cahiers du cinéma, 2006).


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