Andar às voltas

Texto para a exposição colectiva+publicação Método, Museu da FBAUP, Porto (Janeiro 2017).

Andar às voltas com um título para uma exposição é compreender a importância dos nomes que damos às coisas. Não foi fácil encontrar um método para isso. Partimos de uma ideia simples: não há método possível que possa ser explicado quando falamos das coisas que aqui se apresentam. Todas elas resultam de um diálogo com os processos de trabalho, mas esses processos, apesar de partilharem um contexto, são  irredutíveis. Constroem um mundo próprio e inventam um método só seu. Esse método é muitas vezes a negação de qualquer ideia de método, pelo menos desses princípios do método que herdámos do Cartesianismo.

Descartes,  no seu Discurso do Método(1637), diz-nos que são quatro esses princípios. O primeiro consiste em não tomar nenhuma coisa por verdadeira sem que a conheçamos evidentemente como tal. O segundo consiste em dividir cada uma das dficuldades a examinar em tantas parcelas quantas as necessárias, e requeridas para melhor as resolver. O terceiro consiste em conduzir os nossos pensamentos por ordem, começando pelos objectos mais simples […] até ao conhecimento dos mais complexos […].  E o último, em proceder sempre em enumerações tão completas e a revisões tão gerais, que pudéssemos estar certos de nada ter omitido.
Proceder metodicamente seria assim avançar com cuidado, etapa a etapa, do geral para o particular, dividindo os problemas em problemas mais pequenos, sempre com a intenção de tudo examinar com critério, sem nada excluir.

A descrição de um procedimento assim, aplicado ás mais diferentes actividades humanas, seria sempre algo próximo de um algoritmo, isto é, um conjunto de instruções bem definidas e, idealmente, desprovidas de ambiguidade.

Uma receita culinária é disso um exemplo simples, um discurso do método vertido para um conjunto de instruções, um algoritmo dividido entre a enumeração dos ingredientes e a descrição da sua manipulação. Um manual de instruções.

Todos reconhecemos a importância do método, de uma acção metódica, para as coisas mais simples ou para as mais complexas da vida.  Sabemos contudo que um algoritmo depende da sua execução e, sobretudo, da sua adequação ao problema a que se destina. Esta exposição nasceu assim da tentativa de compreender a impossibilidade de se falar de um método, enquanto caminho que se segue para chegar a um determinado fim, ou de uma qualquer metodologia, entendida como o estudo dos melhores métodos numa dada área do conhecimento.

A seu modo, cada um dos trabalhos que se apresentam nesta exposição é uma possível resposta a estas dúvidas. A exposição não se faz contra o método mas sim com o método, ainda que à distância de um olhar.

A exposição tem depois o seu alter ego, uma publicação intitulada Cadernos, com 11 contribuições autónomas, cada uma delas um pequeno caderno que prolonga a exposição e ajuda a desmontar em definitivo o contexto que lhe deu origem, uma disciplina, ou unidade curricular, como agora se diz, com o misterioso nome Metodologias de Projecto e de Investigação II.

Miguel Leal
Janeiro 2017

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