Proponho para este trabalho um estudo das relações entre som e imagem no conjunto de obras do grupo de artistas ligados ao Futurismo italiano, movimento de vanguarda surgido em Milão, no início do século XX.

Partindo da análise da produção sonora e escrita do artista e compositor Luigi Russolo, delinear o encontro da música, do som, com a produção pictórica, gráfica e poética de outros integrantes do movimento, como Filippo Marinetti, Carlo Carrà, Umberto Boccioni e Giacomo Balla.

O trabalho terá seu alicerce teórico no manifesto “L’arte dei Rumori” (arte dos ruídos), escrito por Russolo em 1913, buscando a criação de um fio condutor, de uma estrutura que alinhe as diferentes produções artísticas que no início do século passado aliaram arte à evolução tecnológica.

O texto em forma de manifesto se trata de um escrito comum às vanguardas históricas, uma espécie de declaração pública de princípios, e neste Russolo discute precisamente sobre a necessidade de questionar o papel que os instrumentos desempenhavam na música da época. Assim como na produção pictórica de vanguarda, objetava que a música deveria estar ciente das mudanças que ocorreram na sociedade pós-revolução industrial, com o advento da máquina e da eletricidade, e clama em seu escrito para que a música não se mantenha alheia desta nova realidade, propondo assim, uma espécie de “morte do ontem”, ou morte do passado na música.

Para Russolo, o ontem era silencioso, era orgânico; o hoje está acompanhado da eletricidade, da máquina, da cidade, do ruído: o cotidiano está contaminado pelos avanços da modernidade, e por isso em seu escrito afirma “Todas as manifestações de nossa vida vem acompanhadas pelo ruído. O ruído é, portanto, familiar ao nosso ouvido, e tem o poder de remeter a própria vida.”

A vida de então já não era a mesma, e a música, portanto, não poderia estagnar.

Traçando um paralelo com a produção gráfica e pictórica do futurismo, podemos notar uma comum vontade de transpor essa nova realidade para dentro da obra. A utilização corriqueira de onomatopeias na poesia de Filippo Marinetti mostra uma clara necessidade de aliar o som com a imagem, de trazer para dentro da imagem a mecanicidade, a velocidade, o movimento.

A composição gráfica do poema sonoro de Marinetti “Zang Tumb Tuuum”, de 1912, demonstra a intenção de criar dinamismo na poesia, que busca imitar o prolongamento do som através de palavras alongadas, distorcidas e assimétricas. Esse mesmo dinamismo é encontrado na obra do pintor Giacomo Balla, que em seu icônico “Cão na coleira”, de 1912, investiga a entrada do movimento na produção visual. Segundo Marinetti, em 1909, “O esplendor do mundo foi enriquecido por uma nova forma de beleza, a beleza da velocidade”.

Como metodologia propõe-se a leitura dos manifestos de Filippo Marinetti, para o estudo da produção poética e pictórica, de Luigi Russolo para a produção sonora e de Umberto Boccioni para a produção escultórica. A análise das obras sonoras e visuais dos artistas ligados ao movimento buscam conferir pontos em comum em suas produções, a fim de estabelecer uma proximidade entre som e imagem, criando assim uma imaginária para a obra de Russolo.

 

Bibliografia:

RUSSOLO, Luigi, “L’Arte dei Rumori. Utilizada a versão inglesa “The Art of Noise”, s.l., UBU Classics, 2004. Disponível

Flo Menezes (org.). Música Eletroacústica: História e Estéticas. São Paulo: Edusp, 1996

GRIFFITHS, Paul. Enciclopédia da Música do Século XX. Trad. Marcos Santarrita e Alda Porto. São Paulo: Martins Fontes, 1995

CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo, Martins Fontes, 1996.


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