A minha proposta de trabalho para som e imagem coloca-se no centro das práticas cinematográficas. Interessou-me particularmente o papel do homem enquanto produtor de realidades alternativas, estas ligadas ao seu inconsciente/lado onírico, que desde os primórdios do cinema, transmitiu através da imagem as suas fantasias e desejos, mesmo que de uma forma inconsciente.

A imagem desde o início procurava transmitir a realidade e o quotidiano do ser humano. Primeiro através da fotografia e mais tarde com o surgimento da imagem em movimento, o cinema trouxe discursos alternativos, enfatizando a imagem enquanto produtora de novas realidades, ou talvez os sonhos mais profundos do homem que se posicionava por trás da câmara de filmar.

Dziga Vertov um dos autores emblemáticos da história do cinema, conseguiu a relação intrínseca que a imagem tem com o quotidiano do ser humano e introduziu a ligação do documental ao ficcional para conseguir essa autenticidade e realidade da experiência do homem no seu dia a dia. Esta visão da realidade tem como fim uma compreensão e análise do cinema enquanto ilustração dessa experiência. Em “O cinema ou o Homem Imaginário” Edgar Morin percebe que o voyeurismo acaba por se assemelhar no seu modo de atuar, partindo para a conclusão que a visão empírica que o realizador tem ao produzir uma imagem cinematográfica está ligada a visão onírica da mesma.

Ao perceber e analisar o surgimento do cinema e dos seus meios técnicos, posso concluir que o elemento sonoro, apesar de não ter estado diretamente ligado à percepção do objecto cinematográfico esteve sempre presente através da ausência do mesmo. Interessou-me o facto de que o desejo de transmitir uma determinada realidade não tem necessariamente ligação com a percepção audiovisual no seu todo, diga-se que mesmo inconscientemente o som fazia-se transmitir. No entanto, e relacionado com a evolução desta arte, talvez só fizesse sentido afirmar tal facto na questão da produção do cinema enquanto imagem do real. Tal como quando sonhamos, não percepcionamos o elemento sonoro no seu estado ativo, podemos relacionar uma visão onírica da imagem em paralelo com a visão onírica do som que se encontra intrínseco.

Assim, ao mágico e ao imaginário estão ligados uma série de conceitos e termos que se vem descobrindo intrínsecos ao nosso ser, onde a polaridade entre o encanto da imagem, este ligado ao efeito que proporciona no homem, e a metamorfose do universo, através da montagem técnica desse universo, formam o que foi e o que é hoje a arte cinematográfica.

De um modo geral, citando Lévi-Strauss a obra de arte atua enquanto objecto ilustrativo de características de irredutibilidade e primitividade, no sentido em que o que transparece e é transmitido pelo artista/ser humano, é o nosso lado mais puro, o lado do inconsciente imaginário.

Estes são alguns tópicos que pretendo abordar e dar continuidade no trabalho final para a disciplina de som e imagem.

 

Bibliografia:

 

. O cinema ou o homem imaginário : ensaio de antropologia / Edgar Morin ; trad. António-Pedro Vasconcelos. - Lisboa : Relógio D’água, 1997. - 249 p.. - (Grande plano )

 

. A imagem do cinema : história, teoria e estética / Paulo Viveiros. -  2ª ed. - Lisboa : Edições Universitárias Lusófonas, 2005. - 159 p. : il. ; 24 cm. - (Imagens, sons, máquinas e pensamento ; 4 )

 

. Olhar ouvir ler / Claude Lévi-Strauss ; trad.Teresa Meneses. - Porto : ASA, 1995. - 175p. : il. ; 22cm. - (Sinais : literatura )

 

.L’ audio-vision : son et image au cinéma / Michel Chion. - Paris : Nathan, 1990. - 186, [6]p. : il. ; 22 cm. - (Fac-Cinéma / dir. Michel Marie )


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