A minha proposta de trabalho assenta numa numa reflexão sobre a relação entre o som e a imagem na vida, nas artes plásticas e no cinema. Consciente que este é um campo demasiado vasto parti do meu interesse nas capacidades plásticas do som enquanto extensor da visão do homem. Seguindo o exemplo de alguns filmes de Jacques tati, interessou-me a sua objectualidade sonora que nos orienta a visão para aquilo que que não está ou poderia, silenciosamente, passar despercebido. Parti também de um dos primeiros exemplos das aulas – La Jettée de Chris Marker -  que nos induz, pelo som, a uma continuidade e espacialidade  inexistentes se nos ficarmos pela sequência de imagens mudas. Assim, pretendo explorar e perceber os limites das diferentes noções e possibilidades do som no cinema e nas artes plásticas.

Desde os primeiros registos conhecidos das experiências de vida do Homem, o som e a imagem existem e estão presentes, associados a ritmo próprio, estimulado pelas suas caracteristicas visuais. A própria linguagem escrita é uma tradução da oralidade em imagens que, constantemente, convertemos em sons. Talvez pela facilidade primeira da manipulação, registo e partilha, a imagem tomou uma posição claramente dominadora na memória colectiva. Este predomínio da visão em detrimento dos outros sentidos físicos é ainda hoje evidente mas, à medida da mudança do olhar do homem e das evoluções técnológicas decorrentes,  o som vai ganhando uma forma muito mais abrangente.

O som , pela imaterialidade que o compõe e pela sua incapacidade de registo, num passado ainda recente, trouxe na sua herança ocidental uma elevação espiritual que o tornou uma das fontes de inspiração abstracta nas artes visuais modernas e estimulou em parte o conceito de instalação e sintopia das artes.

As pazes entre o corpo e o espirito, a arte e a vida permitiram também a desmitificação do olhar sobre o som. Agora com uma visão mais terrena passamos a experiencia-lo como ele mesmo e descobrem-se possibilidades plásticas que não posso deixar de comparar à expanção da pintura e da esculltura.
Mesmo antes da presença do som nas imagens em movimento este estava já contido nos ritmos, nos cortes, nos tons, nos movimentos, nos diálogos… O som quando inserido, apenas numa tentativa de uma sincronização com a imagem não acrescentou nada de realmente significativo na expressão cinematográfica. Este esteve sempre sincronizado pelo menos num imaginário muito mais extenso.
Quando todos os sons que nos rodeiam passam a ter importância matérica e plástica, surge um novo sentido a que Chion chama de  audiovisão. A apreensão de uma experiência, pode ser entendida como um complemento dos sentidos sem a primacia de nenhum, um complemento de ambos. Sabendo que não vemos da mesma forma se não ouvirmos, e que não ouvimos da mesma forma se não virmos, as possibilidades plásticas extendem-se.
A capacidade de audiover extende a realidade tornando-a mais real do que nunca, e atribui-nos a capacidade de percepcionar  aquilo que antes parecia ser invisível. Desta foma a  realidade ganha, uma dimensão que rossa a ilusão. A manipulação dos sentidos ao limite direciona-nos para um tempo, um ritmo, um espaço, que ultrapassam todas as barreiras da extrema fisicalidade.

Referencias bibliográficas:

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Almeida Ana Paula; O^universo dos sons nas artes plásticas. ISBN: 978-972-772-707-0

Brougher Kerry 205; Visual music. ISBN: 0-500-51217-5

Cage John;Empty words. ISBN: 0-8195-6067-7 30.69

Lévi-Strauss Claude;Olhar ouvir ler. ISBN: 972-41-1374-4

Ribas Luísa;Sobre o papel do som no audiovisual

Viveiros Paulo;A^imagem do cinema. ISBN: 972-8296-93-2

Bosseur Jean : Sound and the visual arts

Chion Michel- audiovision – ediciones Paidos Iberica S.A- Is

Grilo João Mário: As lições do cinema -p 42 a 46, Ed colibri

Altman Rick : Sound theory sound practise, p113 a 124.


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