Vai na rua,

Vai no autocarro,

Vai à espera sentado,

Vai só a olhar,

E depara-se com monólogos, ou recheados de sorrisos ou de rugas de preocupação ou de simples palavras ou outras.

Um estudo de comportamento, uma análise de conversas telefónicas. Ouvimos pessoas a falar ao telemóvel e rapidamente construímos uma narrativa, apenas com pedaços da intriga! Dois diálogos distintos ligados num só. Realidades distintas, sons e imagens que se complementam e constroem, para nunca estarem em harmonia.

Um som que escapa a uma imagem, uma palavra que através de um som a representa.

Pretendo registar conversas telefónicas casuais e construir outras fictícias, analisando o poder experimental destas na construção de textos através desses excertos linguísticos: uns montados como puzzles, outros sem sentido, outros experimentais, alguns poéticos, vários fragmentos e uma espécie de vídeos.

“o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora.” Manoel de Barros, Livro Sobre Nada

Nesta obra, o autor assume uma linguagem em que a palavra é a negação da representação.

A fala poética deixa de ser fala de uma pessoa: nela, ninguém fala e o que fala não é ninguém, mas parece que somente a fala ‘se fala’ (…) “Isso significa, em primeiro lugar, que as palavras, tendo a iniciativa, não devem servir para designar alguma coisa nem para dar voz a ninguém, mas têm em si mesmas, os seus fins.”

“Sob essa perspectiva, reencontramos a poesia como um potente universo de palavras cujas relações, a composição, os poderes afirmam-se, pelo som, pela figura, pela mobilidade rítmica, num espaço unificado e soberanamente autónomo. Assim, o poeta faz obra de pura linguagem e a linguagem nessa obra é retorno à sua essência. Ele cria um objecto de linguagem, tal como o pintor não reproduz com as cores o que é mas busca o ponto onde as suas cores dão o ser”.

(…) “o poema entendido como um objecto independente, auto-suficiente, um objecto de linguagem criado por si só, manada de palavras onde só se reflectiria a natureza das palavras e nada mais, talvez seja então uma realidade, um ser particular, de uma dignidade, de uma importância excepcional, mas um ser e, por isso mesmo, de forma nenhuma mais próximo do ser, do que escapa a toda a determinação e a toda forma de existência.” Maurice Blanchot, O Espaço Literário

Bibliografia

Manoel de Barros, Livro Sobre Nada

Maurice Blanchot, O Espaço Literário

  *Estes são os escritores que pretendo analisar


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