Draft – Paranoid Park, de Gus Van Sant

Como objeto de estudo, escolhi analisar o filme Paranoid Park (2007) de Gus Van Sant.  À partir dos conceitos estudados em sala de aula, junto da bibliografia passada, tentarei dissecar as estruturas do filme à partir do som e buscar aplicar os conceitos que vimos como sons empáticos e anempáticos, in e out, sincronismos  e diacronismos, entre outros.

Paranoid Park conta a história de um assassinato provocado acidentalmente por um jovem skatista. O acidente em si não é o assunto principal do filme e sim a maneira como a personagem enfrentará essa situação no seu dia a dia. Alex, que ainda está no colégio, tem de lidar com toda a culpa e a pressão de não poder contar o ocorrido à ninguém e ao mesmo tempo enfrentar seu cotidiano e os problemas que envolvem sua faixa etária, o fracasso como skatista, a escola, o relacionamento tumultuoso de seus pais e a namorada no colégio.

Em seus filmes, Gus Van Sant usa o universo dos jovens como objeto de estudo. Mas diferente do modo como Hollywood os retrata usando da comédia cheia de clichês, Gus Van Sant transforma pequenas cenas do cotidiano que nos parecem banais em pura poesia. Os conflitos dessa faixa etária que hoje nos parecem superficiais, são tratados com muita importância e cautela. Seus filmes de certa forma, também são autorais. Em Paranoid Park, a mente desses jovens é muito mais complexa. E essa complexidade pode ser percebida pelo uso do som e dos planos escolhidos para as cenas. As personagens muitas vezes parecem mostrar uma passividade enorme diante dos acontecimentos, sem reações, uma falta de expressão corporal que pode ser sentida pelo som. O diretor faz uso de ruídos e de uma trilha sonora bastante diversificada que varia de acordo com a sensação das personagens, de música clássica à heavy metal. Momentos de silêncio também são bastante usados para que a cena em si possa ser percebida sem que a música nos desvie a atenção, muitas vezes contrariando o que é visto, entrando em choque. Os momentos de reflexão das personagens são filmados em close-up, normalmente na altura dos olhos do ator o que dá a sensação de entrar em seu universo seguido de ruídos agudos e graves que crescem cada vez que simulam uma aproximação com seus conflitos internos, dando uma sensação de intimidade com a história e com o que pensa a personagem.

Como ilustração, deixo em anexo uma pequena cena do filme que acho uma das mais belíssimas. É interessante notar como o som que antes é apenas do ambiente vai se misturando a um ruído agudo que cresce a cada instante e aos poucos sons de pássaros se misturam a esses ruídos (o papel de parede do banheiro tem pássaros desenhados também) , que aumentam cada vez mais e mais e tudo parece estar prestes a explodir enquanto podemos notar certo desespero interno da personagem que apesar de toda a cena ser em câmera lenta, essa união de elementos nos faz sentir o mesmo que ele.

 

Bibliografia de apoio:

JULLIER, Laurent, El sonido en el cine, Barcelona, Editorial Paidós, 2007

The Voice in Cinema, full pdf version, by Michel Chion

A percepção sonora”, de João Mário Grilo, in As lições do cinema: Manual de filmologia, Lisboa, Edições Colibri, 2007, pp. 41-46.

 


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