A escultura sonora numa reflexão cinematográfica.
O som traz ao cinema o tempo e o espaço sonoro, para além da mimesis da imagens abre-se a possibilidade da mimesis do som, conseguindo assim que o espectador entre no espaço da acção visual.
Esta espacialização tanto do espaço fílmico como da própria sala de visionamento é explorada pelo som de diferentes formas, para que o espectador sinta um espaço tridimensional.
A sound art, tal como o cinema, apropria-se destes conceitos e transporta-os para a sala de exposições. São várias as explorações do som e a sua ligação com o espaço envolvente.
A acusmática , “que faz ouvir sons sem a visão das suas causa” , é explorado pelo artista Mikel arce em *.WAV (2004), onde o som só é visível através do seu efeito na água. Este trabalho explora a manipulação da tela “de projecção”, neste caso espelhos de água, através da emissão sonora onde, apesar do objecto visíve, o espectador nunca vê ou conhece a sua origem. Se pensarmos que o espaço expositivo é a sala de visionamento e a obra a tela de projecção, tal como no filme de Jacque Tatti “Les vacances de Monsieur Hulot”, esta obra é composta por vários sons acusmáticos que na sua composição total decompõe a necessidade hierárquica atribuída tradicionalmente.
Podemos ainda considerar que, num espaço expositivo de uma escultura sonora, o espectador se sente como na sala de projecção de filme. A imagem é complementada por vários sons. Para ele os actores são os seus vizinhos espectadores que entram e saem da tela de projecção, estes mesmos podem criar sons in e off; in quando falam dentro do campo visual do espectador principal e off quando saem do seu campo e permanecem no seu campo sonoro. A escultura sonora pode emitir som de uma forma acusmática ou não, como no caso da obra de Steve Roden “ Oionos” (2010), dado que o espectador consegue perceber através dos vidros coloridos translúcidos que os objectos escultóricos emitem som próprio.
Sendo assim, o espaço audiovisual na sala de exposições da peça sonora assemelha-.se ao de um filme, para o ponto de vista do observador que permanece quieto no seu visionamento.
O som traz para a escultura a tridimensionalidade espacial não contida. Expande as barreiras de espaço permitindo uma maior amplitude na peça exibida. O som permite que o observador se sinta num espaço todo ele criado pelo artista, não sendo apenas a fotografia estática da peça escultórica. Acrescenta-se assim o tempo à escultura, sendo sempre diferente segundo após segundo. A mimesis é intemporal.
Bibliografia
CHION, Michel (2008) - A audiovisão, som e imagem no cinema – Lisboa : Edições texto e grafia
Filmografia/ Obras
Jacques Tati (1953) – Les vacances de Monsieur Hulo
Steve Roden, “Oionos” 2010
Mikel Arce, “*.WAV” 2004