A componente sonora no cinema/vídeo é normalmente conduzida em função da imagem. A sonorização pretende criar um tipo de ligação com as cenas e acaba por influenciar a forma como interpretamos as acções, sem que nos apercebamos de como somos conduzidos. Penso que ao analisar o discurso sonoro como forma de expressão, impõe-se sobre ele, uma perspectiva não orientada por processos ou técnicas, mas uma análise da mensagem que pretende ser transmitida.
Para a realização desta proposta de trabalho pretendo incidir na relação entre o som e imagem a partir do filme “Mulholland Drive”, de David Lynch, de 2001. Pretendendo então abordar algumas especificações dos elementos sonoros, olhando para a relação temporal entre o som diegético ou não diegético com a imagem. Pretendo também estudar a questão do Som Presente, que corresponde ao universo diegético, ou Ausente; sendo que estes sons podem ocorrer dentro ou fora de campo. Também o conceito de Som Interno que Michel Chion desenvolve, propondo que este pode ser Objectivo ou Subjectivo. Explorar a “imposição” do ambiente, notando que um efeito sonoro é muitas vezes suficiente para criar a sensação da visualidade/de um ambiente. Interessa-me também analisar no filme as personagens que surgem, por vezes, parcialmente “acusmatizadas”, isto é, conseguimos visualizar as personagens mas apenas parcialmente, não conseguindo ver verdadeira ou claramente o seu rosto, no entanto também não está tapado ou escondido.
A criação do diálogo ou efeitos sonoros no cinema ou vídeo tem o objectivo de proporcionar uma experiência auditiva ao espectador, de forma a que este se envolva para além do conteúdo da narrativa. Este envolvimento na experiência auditiva reflecte-se num aspecto interessante que é a capacidade que temos ao conseguirmos focar um determinado som e percepcioná-lo com mais clareza do que todo o restante som presente num ambiente mais ou menos ruidoso, apesar de ele ter na realidade ou aparentemente o mesmo volume.
Bibliografia
Chion, Michel (1990), Audio-vision, Paris, Éditions Nathan (trad. e edi. ingl. de Claudia Gorbman, Audio-vision: sound on screen, New York: Columbia University Press, 1994).“THE THREE LISTENING MODES” (Chapter II)
ALMEIDA, Ana Paula (2007), O universo dos sons nas artes plásticas.
Browse Timeline
- « Mon oncle (jacques tati, 1958) linguagem e a sua pluralidade; as linguagens “não faladas”
- » Rascunho – Mariana Souza