O valor que a palavra e o som induzem à imagem e a forma como esta conduz o nosso olhar é um dos meus focos de interesse dentro daquilo que será a minha pesquisa no âmbito da unidade curricular de Som e Imagem. Assim como a palavra, o som dentro do cinema, existe para guiar o espectador e, por isso, pode ser empático e anempático. Existem todo um conjunto de relações passíveis de serem criadas entre o som, a imagem e o texto/palavra que fazem parte daquilo que Chion apeliada como “mecânica escondida” (P. 15*).

O texto no cinema possibilita a criação de imagens. A imagem pode ser evocada pelo texto, assim como pode ser desmentida pelo texto ou, até, contrariá-lo.

No cinema, o som liga-se com as imagens. Esta ligação pode ser feita a nível de tempo – o som continua para além dos cortes visuais; ao nível do espaço, quando identificamos o que ouvimos com aquilo que estamo a ver; e através da música que, envolvendo as imagens, deixa que escape a noção de tempo real. Também o silêncio é utilizado para modelar a imagem ou a ausência dela.

Outro ponto sobre o qual me quero debruçar é o da sincronização. Esta fase da montagem pode ter como base diferentes formas de sincronizar o som e a imagem: através de uma sincronização de convergência, no qual som e imagem se acompanham mutuamente com o início e o fim de um plano; através de um corte da imagem e do som, podendo dar ênfase a um determinado som, evidenciar um dado plano ou sequência; ou através de uma palavra, colocada de forma a que exista uma sincronia entre a imagem e o som.

Chion fala-nos do ponto de sincronização evitado para explicar que o ponto de sincronização pode não existir, mas sim ser criado pelo espectador.

O som acusmático e o som visualizado são, dentro do cinema, dois fenómenos que nos permitem entender a ligação entre o que é sonoro e o que é visual – um som pode permanecer acusmático ou sê-lo apenas em parte. No caso de permanecer acusmático cria um mistério. Este está consequentemente ligado ao fora de campo. O fora de campo pode trazer consigo o som acusmático (som cuja fonte não é revelada na imagem apresentada); e o som off cuja fonte sonora não está dentro da imagem, mas que é não-diegético, ou seja, situa-se, temporalmente, num outro espaço que não o lugar e o tempo filmados.

O som pode ser um som ambiente, corresponder à ambiência da cena filmada.

O som interno é o som que associamos à imagem mas que está associado ao interior mental ou físico de uma personagem, quero dizer, podemos ouvir o que a personagem pensa – som interno-mental; ou ouvir o som da sua respiração ou da sua pulsação – som interno-objectivo.

O som on the air está presente dentro de cena, simulando a presença de determinado som dentro do espaço ou fora deste, como se fosse o espectador que estivesse a ouvir estes mesmos sons que provêm da TV, do rádio, etc.

Em Godard o som é visual. Ao montar planos com som faz com que estes, por sua vez, nos façam sentir num espaço concreto.

Carta a Freddy Buache, filme de Godard, é uma das suas obras que me parecem fazer todo o sentido analisar, tendo em conta a palavra, o som e a imagem dentro do cinema.

 

 

 

 

Bibliografia

 

 

Adelmo, Luiz – Som-imagem no Cinema. FAPESP, 2003. ISBN 85-273-0681-6

 

Aumont, Jacques; Marie, Michel – A análise do filme. Armand Colin, 2004. ISBN 978-989-8285-02-7

 

Burch, Nöel – Praxis do Cinema. Editorial Estampa, 1973.

 

*Chion, Michel – A audiovisão – som e imagem no cinema. Armand Colin, 2008.  ISBN 978-989-8285-24-9

 

Chion, Michel - The voice in cinema. New York : The Columbia University Press, 1999. ISBN 0-231-10823-0

 

Gardies, René – Compreender o cinema e as imagens. Armand Colin, 2007. ISBN 978-989-95689-8-3

 

Oliveira, Luís Miguel – Godard – 1985 a 1999. Cinemateca Portuguesa, 1999. ISBN 972-619-176-9

 

Stam, Robert – Introdução à teoria do Cinema. Papirus, 2003.

 

Xavier, Ismail – A experiência do Cinema. Embrafilmes, 1983.

 

 


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