O cinema, na sua forma mais comum, na sua forma mais clássica, desde que associou o som à sua imagem, sempre procedeu de uma estratégia extremamente pensada e por fim eficaz de lhe atribuir uma concordância perfeita. Este tipo de “concordância”, este tipo de relação entre o som e a imagem, é condicionante daquilo que o espectador retém desta experiência audio-visual. Por outras palavras, o som, para além do seu sentido básico de dar “vida” aos objectos que por si só produzem sonoridades, o telefone, a campainha, água a cair, etc, ou à voz das personagens captadas pela câmara de filmar (som diégetico e som não-diegético), vem já noutro nível dar um outro, ou outros, sentidos muito mais complexos à cena que estamos a assistir no ecrã. Aqui refiro-me de maneira mais específica àquele que geralmente se chama de “banda-sonora”, “música ambiente”, som de fundo”, …

É a esta função do som que penso em debruçar-me mais profundamente no âmbito do trabalho final desta unidade curricular de Som e Imagem. Esta estratégia de aproveitar este tipo de forma de som para dar mais ênfase, para direccionar a interpretação e toda a atenção do espectador para um determinado sentido, como o som empático, foi uma das coisas desenvolvidas nas aulas e referidas nos respectivos textos abordados que mais me chamaram a atenção. Porém, sobre este mesmo tema, o tópico que mais interesse me despertou foi o relativo ao som anempático, tipo de som este que parece desligar-se por completo da acção que está a decorrer em cena, desviando de uma forma mais dramática e radical o sentido que esta, sem ele, teria para o espectador. Nesse sentido, estas duas formas de sonoridade podem ter um dos seus objectivos semelhantes, o de direccionar o sentido da cena para uma determinada direcção, agora o que difere entre eles a partir daqui é essa mesma direcção que, no caso do som empático existe no mundo da cena, vai de encontro com a sua história, já no som anempático cria outras direcções que, apesar de originarem do mesmo ponto de partida, divergem de formas distintas e inesperadas da sua base, proporcionando à cena um sentido totalmente diferente daquilo que só com as imagens a cena transmitiria.

Sobre este assunto, há um exemplo que talvez por já me ser familiar sempre o tenha associado a este tema quando referido nas aulas, exemplo esse que se trata de uma das cenas do filme “Good Morning Vietnam”, de 1987, realizado por Barry Levinson e escrito por Mitch Markowitz. Esta cena a que me refiro, trata-se de um conjunto de imagens que descrevem o ambiente de guerra vivido nesta altura em Vietnam, com a música de fundo de Louis Amstrong, “What a Wonderful World”. Este casamento entre estes dois elementos dá, de facto, um sentido totalmente diferente à acção que estamos a assisitir, tanto a nível da sonoridade como ao nível da letra que a música nos apresenta. Neste enorme contraste sobre um cenário de guerra e um som que idealiza um mundo perfeito, é-nos transmitida uma sensação muito mais dramática do que aquilo que estamos a ver, comparando com a mesma visualização em modo mudo.

Para o meu trabalho final, penso então aprofundar este tópico, explorar as suas variantes, assim como o exemplo aqui já adiantado e posteriormente outros possíveis de serem analisados a este nível.

 

Bibliografia:

http://www.filmsound.org/terminology/diegetic.htm#diegetic

http://www.filmsound.org/terminology.htm

Julier, Laurent, “El sonido en el cine”, Barcelona, Editorial Paidds, 2007

 

Filmografia:

Levinson, Barry, “Good Morning Vietnam”, 1987


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