A fotografia sempre teve associadas a si as características de um documento indiscutível, uma vez que trouxe consigo a possibilidade de capturar o instante. Esta representação mais fiel do real liga-se a um carácter documental que se encontra na base da criação do filme. A capacidade de fixar um momento, de “congelar” o movimento conduz-nos a uma nova percepção de tempo. Podemos dizer que há uma reconfiguração, uma suspensão do tempo real no tempo da fotografia. Essa “suspensão” viria a ser explorada de forma sequencial por Eadweard Muybridge nas suas experiências de movimento. Percebe-se que existia uma vontade de conferir às imagens um tempo, aproximando-as do real, o que leva à passagem da fotografia fixa ao filme animado.

As emoções produzidas pelas imagens não se devem à fidelidade da sua reprodução mas à capacidade do espectador de se relacionar com elas, da sua convicção na autenticidade daquilo que vê. Essa relação emocional não é apenas dada pela linguagem figurativa das imagens mas também pelas sensações trazidas pelo som. Temos o cinema como algo figurativo e sonoro onde a relação que se estabelece entre aquilo que vemos e ouvimos está carregada de significações que vão construindo o ambiente para o qual somos transportados.

No meu trabalho pretendo utilizar o filme “La Jetée” de Chris Marker como ponto de partida para aquilo que pretendo desenvolver no trabalho final, a relação entre as imagens e a narrativa que se vai construindo em torno destas. Por ser um filme representativo de uma linearidade sonora, existe um tempo que nos é dado pelo discurso sonoro, que vai simultaneamente sendo suspenso pelo carácter fragmentário das imagens. Existe uma continuidade no som mas um aprisionamento do tempo pelas imagens. Interessa-me explorar a relação perceptiva que se estabelece com as diferentes formas de abordar as imagens e como o som se vai relacionando com estas variações. Porque esta duração, desde a aceleração, à câmara lenta ou à suspensão da imagem, encontra-se ligada à forma afectiva ou dramática com que nos relacionamos com aquilo que vemos.

 

Bibliografia

Malabou, Catherine; Plasticité, ISBN:2914172060

Lotman, Yuri; Estética e Semiótica do Cinema, Editorial Estampa, 1978

Gardies, René; Compreender o cinema e as imagens. Armand Colin, 2007; disponível em: http://www.olivreiro.com.br/livros/?acao=ler_livro&uid=1373831

Chion, Michel; The voice in Cinema, ISBN: 9780231108232

Chion, Michel; La Audiovisión,Paris : Nathan, 1990, ISBN: 9780231078993

Jullier, Laurent; El sonido en el Cine, ISBN:8449320275

 


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