Como compreeendemos a obra de arte que diz respeito a vários sentidos? Vemos primeiro e depois ouvimos , ou ouvimos primeiro e depois vemos? Ou vemos e ouvimos em simultâneo, previligiando um ou outro de acordo com a nossa disponibilidade de percepção? E o pensamento, não será também um sentido? E o corpo não sente de uma forma táctil, mesmo sem tocar?
Enquanto o olho percepciona o espaço, o ouvido percepciona o tempo. O som existe num contínuo absoluto, impossível de parar ou de anular. Mesmo em espaços mais recônditos , grutas , cápsulas ou câmaras de ressonância, …., prevalece o som, até mesmo podendo reduzir-se à circulação sanguínea do corpo (John Cage). Aceitamos o espaço visivel mas perdemos o espaço percebido pelo som. Logo é criada uma sensação de desorientação.
Será o som dependente da imagem? Conseguimos aceitar essa desorientação de uma forma inversa? em que deixamos de ver e só ouvimos?
Vasco Pimentel diz-nos “eu ouço sons que vocês não ouvem e não ouço sons que vocês ouvem”. Será que vê os sons que ouve? Será que ouve sons através das imagens que vê? O som tem materialidade? Tem cor? As imagens têm som? Os sons têm imagem? E o silêncio ?
O silêncio para John Cage não é acústico, é uma mudança na mente, é um dar a volta. Não será antes uma sensação de desorientação?
A sincronia das imagens que vemos com o som que ouvimos dá-nos a melodia, a consonância, o convencionado, e tira lugar à imaginação, ao alargamento do campo e à potencialização da criatividade. É na sincronização dos sentidos de quem percepciona a obra, que se encontra o contraponto, a polifonia, a sinestesia. Se assim for, o espectador só tem disponibilidade de percepcionar a obra visual e Sonora se for capaz de sincronizar os sentidos. Como se pode medir essa sincronia? Quais são as variáveis implicitas nesta experiência para além da disponibilidade ou capacidade pessoal de visao e de audição?
O contexto leva o som a parecer-se com …. No contexto da sound art, Max Neuhaus dizia “e que tal por isto no teu enquadramento perceptivo?” O quando e o onde se vê e se ouve, tornam a obra muito específica. Max usava a técnica inquisitiva, para levar o espectador para um novo lugar, para atingir uma nova percepção de lugar. Max tenta-nos fazer atingir uma nova percepção sinestésica onde o nosso corpo emerge, há uma emersão do espectador.
Bibliografia e filmografia
Grilo, João Mário, As lições do cinema, ediçoes colibri, 2007
Chion, Michel, La audiovisión,ediciones Paidós Ibérica, 1993
Cage, John, http://johncage.org/autobiographical_statement.html, 15-03-2012
Noto, Alva, http://www.alvanoto.com, 25-04-2012
Safran,Yehuda E., acerca de Max Neuhaus, txt 2012
Gomes, Miguel, Aquele querido mês de Agosto,2008
Browse Timeline
- « “Experimentando sincronizações (relações com efeitos psicológicos)”
- » 1º Draft – “Mulholland Drive” de David Lynch