Desde o início do cinema a palavra tem sido um dos principais pontos de focagem para a acção.
Michel Chion disse em “A Audiovisão” (1999) que o vococentrismo favorece a voz, evidencia-a, é um som diferente. É, pelas suas palavras, Um som solista que se faz acompanhar de outros ruídos.
O díalogo sempre foi importante, apesar de não necessariamente vital, para o cinema. Em primeiro plano porque a fala é algo que é intrínseco aos seres humanos, e em segundo pela importância que lhe damos. Quando assistimos a um filme, sempre que uma personagem fala, dirigimos a nossa atenção visual e auditiva para essa personagem, principalmente para a sua face e para os movimentos que faz com a sua boca. De certa maneira até ficamos um pouco “cegos e surdos” ao resto dos estímulos que aparecem, tanto visualmente (não estando atentos ao que se passa no fundo da cena) como também sonoramente (pois filtramos outros ruídos que acompanhem a acção).
Apesar disto, a importância da fala é algo que se baseia muito simplesmente na transmissão de informação. Quando alguém fala, prestamos atenção ao que diz e interpretamos essa informação sonora para a decifrarmos mentalmente, querendo por isto referir-me ao verbocentrismo. No entanto, esta interpretação do som pode simplesmente ser o nosso entendimento do que o som é, por exemplo, o som de um copo a cair a estilhaçar-se no chão é muito claro para nós. Quando o ouvimos, percebemos que um copo partiu-se. Não há diálogo nem é necessária a presença de uma imagem. Por outro lado, um diálogo de sons não inteligíveis pode representar a troca de informação mas que o espectador não a entenda, como é o caso presente no filme “Playtime” (Tati, 1967) quando existe uma conversa entre as cadeiras através do som “ppfffffttt”. Talvez para o entendimento de uma cadeira isto seja uma conversa perfeitamente normal, mas para nós humanos não.
Sendo assim, um diálogo, um verbocentrismo, tem de ser compreendido, como explica Chion, focamos a nossa atenção em informação vocal e verbal que consigamos entender, uma voz que consigamos perceber. Então reparamos da necessidade da palavra pronunciada no cinema. Mas e a importância do silêncio no diálogo? Não terá o silêncio esta capacidade também, de transmitir informação numa fala?
Robert Bresson, director de cinema francês (1901-1999) disse que ” O cinema sonoro inventou o silêncio”. Podemos analisar esta frase e perceber que a partir da criação do som no cinema criou-se um silêncio muito diferente daquele que existia no cinema mudo. Um silêncio que vem adicionar muito ao mundo cinematográfico. É necessário, no entanto, ter em atenção à designação de silêncio.
Silêncio é a ausência do som. Não o seu oposto nem extremo… não é um não-som, pois isso não existe. Tal como a escuridão é a ausência da luz e o frio a ausência de calor. Estas são apenas palavras criadas para perceber a não existência/presença de algo, não o seu extremo oposto.
Então o silêncio não “existe” como elemento real, mas a ideia de silêncio constitui um poderoso elemento metafísicp na sonoplastia do cinema ( e não só).
O meu interesse neste trabalho é então procurar e pesquisar esta presença/não-presença do silêncio no diálogo. Na importância que contém para toda a acção cinematográfica. Quanto é que o silêncio muda uma situação? Que relação tem com a visualidade da imagem do quadro do cinema?
Para isto, irei-me focar no filme “Wings of Desire” 1987, por Wim Wenders, seguindo o percurso de anjos que vigiam as vidas de cidadão de Berlim e que, por vezes, ouvem os seus pensamentos. Também poderei falar de outros filmes e obras sonoras para explicar e pensar certas questões que apareçam.
Bibliografia:
“A Audiovisão – Som e Imagem no Cinema” Michel Chion (1999)
Webgrafia:
http://www.imdb.com/title/tt0093191/
http://books.google.pt/books?id=jg6-zTUFMJYC&printsec=frontcover&dq=the+cinema+of+wim+wenders&hl=pt-PT&ei=iHS6TZnGMcSGhQe2z-DQBQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CDQQ6AEwAQ#v=onepage&q&f=false
http://cinemaeuropeu.blogspot.pt/2011/03/o-silencio-de-jacques-tati.html