DRAFT-CHAPLIN E A RESISTÊNCIA AO FILME SONORO
Para este trabalho pretendo explorar o uso do discurso e som nos filmes de Chaplin. O cinema sonoro terminou com a carreira de muitos directores e actores e impulsionou a carreira de muitos outros. Como Chaplin resistiu durante muito tempo a realizar um filme totalmente falado havia duvidas se ele seria capaz de resistir ao cinema sonoro ou se a sua personagem se iria conseguir adaptar.
Com as palavras inseridas no cinema não há nenhuma dúvida sobre o que se quer dizer, o que está ali a fazer ou os valores que nos procura impor. Os mal-entendidos desaparecem. Eram esses mal entendidos que tinha por base o cinema mudo e eram eles que faziam a força e originalidade do cinema. O diálogo é visto como uma ameaça pois vai cortar a liberdade do cinema mudo.
Desde o início que Chaplin foi contra o cinema sonoro: ‘O cinema sonoro, vocês podem dizer a toda a gente que o detesto’, ‘destrói a beleza do silencio’. No entanto, com o passar dos anos começou a integrar aos poucos o som nos seus filmes. Em ‘City Lights’ Chaplin ignora o discurso e cria um filme mudo, apesar dos filmes sonoros já terem sido aceites pela indústria. Aí decide criar uma banda sonora sincronizada composta com alguns efeitos sonoros. Mas e, apesar de ter lançado este filme numa época em que os filmes mudos se começavam a tornar obsoletos, ele teve sucesso devido ao seu estatuto. Contudo, penso que é a partir daqui que começa a ceder aos poucos ao cinema sonoro, pois nos seus próximos filmes vai inserindo alguns elementos novos que que o vão aproximar cada vez mais do cinema falado.
‘City Lights’ estreou em 1931 seguiu-se ‘Modern Times’ em 1936 que já começava a avançar para o sonoro (algo que Chaplin não podia evitar). Ele canta algo improvisando numa melodia popular palavras sem significado numa qualquer língua conhecida. Segue-se ‘The Great Dictator’ em 1940 em que Chaplin finalmente cede ao sonoro num filme pensado desde 1937. Sabia-se que ele estava a realizar um filme sobre Hitler, mas de que outra forma poderia ele representá-lo sem usar a fala?
Penso que Chaplin não se conformou totalmente com o sonoro e por isso mesmo quis continuar a utilizar vários mecanismos do cinema mudo. Chaplin compreende o que o uso do som iria fazer a ‘Charlot’ e por isso usa-o de uma forma inteligente e não apenas como acompanhamento ao visual, de maneira a rematar o elemento visual. Por ter sido contra o cinema sonoro durante tanto tempo é com este filme que ele mostra do que é capaz de fazer com algo que recusou durante muito tempo. Julgo ser no discurso final que ocorre o verdadeiro ponto de mudança em que Chaplin finalmente aceita o sonoro e acaba por abandonar a personagem que o tornou conhecido.
Eisenstein defendeu o cinema sonoro por este ser capaz de criara novos contrastes e conflitos e Chaplin acabou por se aperceber disso mesmo.
Como sempre achei a personagem “Charlot” interessante, com este trabalho quero mostrar como é que Chaplin gradualmente abandonou o cinema mudo e quais as várias formas utilizadas por ele para se ir adaptando ao cinema sonoro. A sua inteligência notável fez com que ele utilizasse algumas técnicas do cinema mudo no sonoro, o que é extraordinário.
REFERÊNCIAS:
GRILO, João Mario. As Liçoes de Cinema: Manual de Filmologia. 4º tiragem; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Edições Colibri; 2010
ARISTARCO, Guido. Historia das Teorias do Cinema, primeiro volume, tradução de Maria Helena Sacadura e Julio Sacadura
JEANNE, René ; FORD, Charles. História Ilustrada do Cinema 2 – o cinema sonoro
http://www.charliechaplin.com/en/biography/articles/6-Modern-Times
http://www.charliechaplin.com/en/films/7-the-great-dictator/articles/13-Filming-The-Great-Dictator
http://www.charliechaplin.com/en/films/5-city-lights/articles/4-Filming-City-Lights
http://sensesofcinema.com/2008/great-directors/charles-chaplin/
Silvia Oliveira