I WAS HERE TO SEE NICK
Análise e deriva interpretativa baseada em Lightning Over Water (1980), de Wim Wenders e Nicholas Ray
Introdução
A dureza do processo comunicativo pressupõe a ausência de amaciadores do discurso – a frieza documental, relatada, descoberta, apresentada ao avesso de processos análogos e metafóricos, deixa à deriva a natureza da realidade captada. O juízo sobre o real não é aleatório, mas muito menos definitivo; é emocional, a maior relativização possível. A imagem trazida até ao espectador é me sensível e injustificável.
“THIS FILM WILL KILL YOU”
O fascínio do documental coloca a câmara numa posição de observação (dentro da cabeça e amedrontada), como se a intenção performativa fosse parada, e todos os comandos desaparecessem, numa visão ocular, expectante aqui e ali, por resposta a estímulos ruidosos ou movimento das personagens. Só não é linear – é imune ao tempo – é feita de regressos, saltos temporais de registos de vitalidade afectada, de procura de estabilidade vitalícia. A voz, que conta e que pensa, que induz a realidade e a credibiliza, a entrega como certa, a contextualiza. Assemelha-se à aproximação máxima da relação entre o físico e o intelectual, na simplicidade do processo mental humano, realizado pela dureza mecânica – que, segundo as imagens revela ao espectador aquilo que ele (sensibilizado) não consegue ver – a crueza do desprendimento da vitalidade humana.
“CUT”
“DON’T CUT”
Bibliografia de apoio:
- Bellour, Raymond; Between-the-Images; JRP Ringier Kunstverlag AG e Les presses du réel; 2012.
- Vários; The State of Things; Office for Contemporary Art Norway and Koenig Books, London; 2012.
- Deleuze, Gilles; A Imagem-Movimento, Cinema 1; Assírio e Alvim; Novembro 2009.