Para este trabalho decidi debruçar-me sobre o trabalho do cineasta escocês Norman McLaren pois o seu trabalho incorpora muitas questões e soluções para o problema das representações do som através da imagem, assim como a tradução de imagens em sons. Esta questão interessa-me muito e vai directamente de encontro aos conteúdos da disciplina de som e imagem.

O trabalho de McLaren e de tantos outros é descendente de uma ruptura do realismo do cinema, após o cinema ter ganho “voz”. O cinema sonoro trouxe, das mais variadas perspectivas , uma nova visão sobre o cinema e a imagem em movimento. Estes novos cineastas tentam, através desta adopção das formas puras e abstractas, romper com o cinema que é “cópia exacta do real”, e dar ao cinema autonomia suficiente para ter a sua própria originalidade e criatividade. Teorizou-se a ideia de um novo cinema, com uma viragem teórica e estética, onde se explora essencialmente situações ópticas e sonoras em vez de acções. Gille Deleuze apresentou-nos este cinema como “Puro” e muitos artistas adoptaram esta visão. Esta viragem já se tinha dado também nas outras artes, como por exemplo, na pintura, em que se se adoptava as formas puras para representar ideias abstractas como a música (Kandinsky é um bom exemplo disso).

Depois de o cinema ganhar voz e se tornar mais realista por se associar um som à imagem, deu meia volta e tomou (em alguns casos) o som como um ponto de partida para produzir a imagem. O percurso de McLaren é feito em diversos sentidos. Primeiro, apaixona-se pela imagem animada, pelas possibilidades de transformação e movimento, pelo tempo dessas imagens. Em segundo, reconhece a importância do som para essas imagens, para marcar e acentuar a acção. Depois, McLaren é também um apaixonado pela abstracção e pela música (especialmente o Jazz) e os seus filmes não o satisfazem por completo. Há uma série de limitações técnicas que o afastam constantemente do seu propósito criativo e aí decide abandonar todas as limitações e trabalhar directamente na película. A película dá-lhe a possibilidade de trabalhar directamente e em conjunto som e imagem.

Esta nova possibilidade de trabalhar simultaneamente som e imagem sem ter de mudar de técnica, sem ter de recorrer a gravações, microfones, câmaras, etc. podendo fazer tudo apenas com película e caneta de ambos os lados conferem a sua técnica algo de único. A distância entre som e imagem torna-se mais curta e a sua tradução é simples.

Assim, o meu propósito neste trabalho será debruçar-me sobre a obra de Norman McLaren, enfatizando a sua preocupação no relacionamento de som e imagem e procurando encontrar as soluções que ele nos apresenta, não esquecendo que a sua intenção final sempre a produção de imagens e o som era uma parte importante nesse processo.

 

Bibliografia:

GRILO, João Mário, As lições do cinema: Manual de filmologia

JULLIER, Laurent, El sonido en el cine

 

Filmografia:

McLaren – The eye hears and the hear sees (1970)

Dots (1940)

Polychrome Phantasy (1935)
Pen Point Percussion (1951)


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