Já não há um fora, aparentemente…

Ontem em Vila do Conde, nos encontros Derivas, organizados pela Circular, esquecemo-nos todos (eu incluído, ao que parece) da última palavra do título que dei à minha apresentação… Já não há um fora, aparentemente….

Sem esse esquecimento, talvez tudo tivesse ficado mais claro  (menos sombrio) (-:

Deixo aqui a parte final da minha intervenção, que me parece abrir a brecha necessária:
Para mim, o gesto político mais radical já não se encontra nessa procura de um exterior, de um fora que parece já não existir, pelo menos enquanto modelo de contracultura; desse ponto de vista, já não há lugar para uma arte fora da arte e o modelo do artista como fora-da-lei parece ter-se esgotado; a estética venceu e está por todo o lado, ocupando todos os interstícios da realidade.
É pois no exercício quotidiano das nossas vidas que essa radicalidade de um gesto político continua a fazer sentido; e é aí que, por vezes, as nossas vidas se cruzam com a arte, constituindo a resposta possível a uma totalidade que nos parece recusar a utopia de um fora, o desejo de um fora daqui, de um outro lugar. Ora, é nesse devir-outro, nessa possibilidade irredutível de nos tornarmos um outro, de desejarmos uma outra coisa, aqui e agora, que reside ainda a radicalidade dos gestos, dos nossos gestos e dos gestos da arte.

(A arte dos media nunca existiu) – Light Art

All Media are Living Dead
(A arte dos media nunca existiu)
[havia um sub-título mais ou menos secreto escondido no título original…]

Foto_Introp

A propósito da minha intervenção desta tarde no Goethe Institut, em Lisboa, <http://www.cecl.com.pt/pt/programa>, fica aqui a última imagem que projectei, como pano de fundo para o seguinte:

[…]
Muito se falou ao longo das últimas décadas de uma arte dos media. No entanto, não há como acordar do seu sono profundo uma coisa que na verdade talvez nunca  tenha existido. Sempre me pareceu redundante o termo
media art, desde logo porque este não pode deixar de convocar o seu negativo, isto é, uma arte que não seja dos media ou uma non-media art.
Sempre que penso neste problema lembro-me da exposição Light Art Art from Artificial Light,  que vi no ZKM de Karlsruhe, em 2006.
Light Art Art from Artificial Light ocupava grande parte do ZKM, transformado num Luna Park feérico de cores e frequências de luz. Ainda  hoje me recordo do calor insuportável de algumas salas. Na exposição, com o habitual sentido enciclopédico da equipa de curadores do ZKM, tínhamos uma amostra de boa parte das peças mais importantes da arte moderna e contemporânea que algum dia incorporaram lâmpadas ou dispositivos de iluminação artificial de qualquer tipo.
O resultado era uma amálgama niveladora em que poucas obras sobreviviam, em grande parte reduzidas às entradas do útil glossário compilado por Franziska Herzog, conservadora do ZKM .
Com efeito, já nada distinguia umas peças das outras, ainda para mais agrupadas no espaço do ZKM por tipologias.: peças com lâmpadas incandescentes, peças com lâmpadas de néon branco, peças com néons coloridos, etc…

Falta-me o tempo para desenvolver um pouco mais este argumento e queria pois terminar lembrando que pensar que exista ou tenha existido uma arte dos media é esquecer que a arte nunca foi outra coisa, é esquecer que a arte nunca viveu sem os seus media, esses zombies desamparados e párias que recusam qualquer categorização….

Foto: http://www.inside-installations.org/

All Media are Living Dead

Mais um resumo/One more abstract (uf!)

No dia 28 de Novembro irei participar no colóquio CULTURAL TECHNOLOGIES AND MEDIA ARTS | in memoriam Friedrich Kittler, em Lisboa
http://www.cecl.com.pt/pt/culturaltech

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All Media are Living Dead
Do ponto de vista da prática artística, a figura do zombie talvez seja a mais adequada para pensarmos o estatuto dos media. Na verdade, para os artistas todos os media são mortos-vivos, habitando um limbo que anula qualquer ideia de um antes e de um depois, de um novo e de um velho, restando apenas um aqui e agora da sua actualidade, uma espécie de désoeuvrement  operativo que os resgata tanto da penumbra do túmulo como da luz do pedestal.
Muito se falou ao longo das últimas décadas de uma arte dos media. No entanto, não há como acordar do seu sono profundo uma coisa que na verdade talvez nunca  tenha existido. Pensar que exista ou tenha existido uma arte dos media é esquecer que a arte nunca foi outra coisa, é esquecer que a arte nunca viveu sem os seus media, esses zombies desamparados e párias que recusam qualquer categorização….

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All Media are Living Dead
From the point of view of artistic practice, the zombie is perhaps the most appropriate figure to think about the status of the media. In fact, for artists all media are living dead, inhabiting a limbo which denies any idea of before and after, of new and old, keeping only the here-and-now of their topicality, a sort of operative désoeuvrement which recalls both the gloom of the grave as the light of the pedestal.
Much has been said over the last decades about media art. However, there is no way to wake up from its deep sleep something that perhaps never existed. To think that there is or has been a media art is to forget that art has never been something else, is to forget that art ever lived without their media, those helpless and outcasts zombies who refuse any categorization ….

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NightOfTheLivingDead

Deep into the dark (Some notes on art practice)

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A  Conferência Dark Futures in Projection terá lugar na na Faculdade de Letras da UP, nos próximos dias 14 e 15 de Novembro.
A minha intervenção está marcada para sexta-feira, dia 15 de Novembro, às 11.30.

Deep into the dark (Some notes on art practice)
The underworld, with its caves, tunnels, mines, caverns or grottos has long been an inexhaustible source for fantasy and imagination. We all know quite well how these underground spaces can turn both into a refuge or a prison, a womb or a tomb, an entrance into a wonderful unknown or a descent to hell. In its dark corners lurk all sort of marvellous and terrible things, things able to surprise in many ways all those who have the courage to venture into the descent. Inside those holes the unknown is always a before and an after, a distant reality which mirrors our world, even if somehow detached from it.
Looking at the appeal such scenarios seem to play on the work of many artists, sometimes literally, in my talk I will try to approach this topic from the point of view of contemporary art practice.

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Conference Program: http://web3.letras.up.pt/darkfutures/userfiles/file/Dark-Futures-Programme.pdf

Dark Futures in Projection:
On the 60th Anniversary of the Publication of Ray Bradbury’s Fahrenheit 451
14-15 November 2013
The University of PortoPortugal

http://web3.letras.up.pt/darkfutures/

Ilfracombe Cave

Ainda a trabalhar em/Still working on: Deep into the dark (Some notes on art practice)

Ver/ see Dark Futures in Projection (On the 60th Anniversary of the Publication of Ray Bradbury’s Fahrenheit 451
14-15 November 2013)

Postcard: Ilfracombe Cave at Watermouth, Devon (1924?)
Photochrom

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