A banda sonora total, omnipresente.

 

Tenho-me questionado sobre um tema recorrente, sempre que vejo um filme. O que é que acontece, ou qual é esse momento, em que o individuo é engolido pela trama; em que o entrelaçar da teia no ecrã se confunde com o que se desenrola com cada espectador. Que truque é este, que feitiçaria esquisita consegue esmagar os critérios e argumentos de quem vê, de quem assiste. Será, então, parte essencial disto, a mestria da fusão entre os elementos do filme numa coisa elástica, extensa e esmagadora. Entre o som, os elementos visuais, música, voz… E nisto posso isolar toda a multiplicidade de elementos em dois grandes grupos: o que vejo e o que ouço, e de que maneira estes deixam de ser entidades diferentes (em que momento é que já não vale a pena distingui-los).

Como é que se misturam estas duas coisas, entre o som e a imagem; e o que é que está no meio destes dois?  Em que momento e de que maneira é que estas entidades se unem numa só? (se é que se unem, pois por vezes existirá a necessidade de serem contrárias)

Interessa-me procurar esses momentos perspicazes no seu todo, em que a relação entre o que vemos e ouvimos se transforma numa curiosa simbiose ou confusão de sentido indiscernível.

Na tentativa de encontrar certas opções de montagem, de criação de um universo paralelo num filme, pelo encontro do som, da imagem. Da imagem que é som e do som que é imagem.

Posso começar por pensar na construção do próprio som como imagem, ou como matéria mais do que sonora, quase perturbadora.

Pensando na banda sonora, questiono se esta não englobará tudo o que ouvimos, desde as vozes à música, aos ruídos brancos e ao próprio silêncio (e à própria imagem?).

Não sei se me farei entender nesta explicação meia baralhada, por isso o melhor será inclinar-me para os casos específicos.

Comecei a interessar-me especificamente por este aspectos mais técnicos desta espécie de feitiçaria na obra de David Lynch. Primeiramente o que me chamou a atenção foram as vozes das personagens, principalmente das mulheres; em que a escolha parece ter sido feita (por vezes) com base numa sensação silenciosa e suspeita. Os timbres parecem ser pensados em consonância com o resto; o resto do som, o resto da história, o resto de tudo. Diria até que a voz (ou a ausência dela) de certas personagens, se torna num dos elementos verdadeiramente perturbadores na obra.

Interessa-me uma pesquisa destes momentos dentro da obra de David Lynch, em consonância com a obra composta para vários dos seus filmes por Angelo Badalamenti.

Dentro dos filmes (em príncipio) em foco, estarão: ‘Twin Peaks’ (série) 1990-1991; ‘Twin Peaks: Fire walk with me’ 1992; ‘Blue Velvet’ 1986 e ‘Mulholland drive’ 2001.

Dentro da bibliografia de apoio começo a considerar, inicialmente: The Voice in Cinema, de Michel Chion e As lições do cinema: Manual de filmologia João Mário Grilo,

 

Teresa Arêde


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