Qualquer um de nós se adapta (ou tenta adaptar-se) às mais diversas situações, aos mais diversos meios e diálogos, utilizando para isso uma espécie de máscara para nos protegermos? mais, ou menos. Usada não simplesmente para esconder mas para alterar ou ajudar a melhorar uma faceta que não achemos apropriada para outra que ficaria “melhor” ali; essas máscaras em que muitas vezes nos refugiamos levam-nos a interpretar demasiados papéis, a chegar a uma altura em que não sabemos muito bem qual/quando deixamos de as usar e quando passamos da “personagem” a ser nós mesmos, despidos, completamente transparentes. Nós, tal como nos conhecemos quando estamos sozinhos.
Do mesmo modo, também o som resulta como uma máscara. Talvez não tanto no sentido de esconder algo (mas também), mas como um meio de revelação, de iniciação para algo que está para vir. É ele também que nos faz interpretar as coisas de diferentes maneiras, uma imagem pode ter diversas interpretações dependendo do som que a “ilustra”, é ele que mesmo sem vermos nos mostra que falamos com uma ou mais pessoas (ou que falamos sozinhos).
Persona 1966, de Ingmar Bergman trata exactamente esse tipo de máscaras, não só dadas pelas personagens e pela forma como cada uma à sua maneira escondem uma faceta e um estado de resignação e traumas relacionados com a maternidade, como dos diferentes papéis que vamos interpretando ao longo da nossa vida, como também da máscara provocada pelo som, e que segundo Michel Chion no livro “L’ Audiovisión” se refere ao som como a máscara de uma imagem vazia. O facto de ao silenciarmos o filme nos apercebermos de certos planos que o som, ao encadeá-los, os tornava quase imperceptíveis, como refere Chion “o que vemos agora é outra coisa”; não esquecendo também do paralelo que se estabelece entre a riqueza do som em todo o filme e o facto de Elizabeth ser uma personagem quase “muda” onde o parar de encenar significava para ela parar de mentir, “o irrealizável sonho de existir, não o de parecer, mas o de ser”.
É incrível a diferença que o som pode fazer.
Até que ponto pode ser ele ou não “verdadeiro”? (Digo verdadeiro no sentido de poder ou não ilustrar uma imagem e preenchê-la, conseguindo enganar momentaneamente o espectador, poderia ser um som como outros 100 e poderia funcionar na mesma? certamente as interpretações e significados seriam muito diferentess).
Em Persona, Bergman através do som tenta conduzir-nos (não fugindo à cinematografia de Bergman) através/para um lado de cariz pessoal. 
É todo esse paralelo entre o pessoal (verdadeiro) e o encenado (mentira) que pretendo debruçar-me; sobre a relação estabelecida entre o Som como máscara para a Imagem.
Outro tópico que achei interessante é o facto de encontrar semelhanças com o “Fight Club”, 1999 de David Fincher, não os pretendo relacionar (não será essa a minha intenção) mas utilizar aspectos que têm em comum de carácter simbólico.

 Bibliografia até ao momento:

_Chion, Michel (1990),  L’Audio-vision,  Éditions Nathan , Paris
_Carolyn Ellis, Michael C. Flaherty, Michael G. Flaherty (1992), Investigating Subjectivity (Parte I: The Many faces of Emotionality: reading Persona), Sage Publications, Inc.


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