Silêncio. Está a gravar… Acção!

Partindo da ligação entre a imagem e o som, gostaria de falar sobre o fim do filme mudo e o início do filme sonoro, mais especificamente sobre a chegada da voz ao cinema e à forma como os actores reagiram a esse acontecimento, baseando-me no “Singin’ in the Rain” que trata esse assunto com um certo tom de paródia, o que ajuda sempre a esclarecer muita coisa. Para além deste, há outro filme que me despertou igualmente a curiosidade sobre este tema, principalmente por ter surgido nesta altura, depois do cinema síncrono estar instalado há tanto tempo, que é “O Artista”, um filme de 2011 que volta a contar como chegou a fala ao grande ecrã. Entrar num mundo tão diferente a nível da representação, tendo nascido numa época onde isso já não acontece, não deve ter sido nada fácil.
Parece-me que, estando-se habituado a debruçar muito do trabalho de personagem em falas e  de repente verem-se livre delas e  obrigados a debruçarem-se mais sobre o corpo e expressão facial, requer bastante treino.
Mesmo a forma de gravar é diferente.  Enquanto que num filme sonoro quando se bate a claquete e se pede silêncio, tem mesmo que haver silêncio, num filme mudo quase que é um pouco irónico pedir silêncio pois nenhum ficará gravado. Toda esta envolvência também afecta muito a forma de trabalhar dos actores e a sua concentração.

Claro que não posso deixar de referir que o silêncio é difícil de respeitar e mesmo os chamados filmes mudos tinham som, daí, serem designados pela indústria cinematográfica, por filmes surdos.
Não poderei falar do som e do silêncio sem referir John Cage,  as suas obras e a sua teoria sobre o silêncio.

Gostaria também de explorar a relação entre o teatro e o cinema e da sua proximidade ou não da representação.
Talvez do ponto de vista do espectador um filme mudo seja mais assumido como farsa assim como o teatro, enquanto que um filme falado pode estar muito perto da realidade, permitindo que seja fácil para o observador  deixar-se envolver de tal modo na ficção que chegue a ficar confundido acerca do que é ou não verdadeiro.

Entrando neste mundo dos filmes mudos e dos actores, óbviamente que não posso deixar de mencionar Charlie Chaplin, falar na sua versatilidade artística que está em todos os lados do cinema, da sua característica pantomima enquanto actor e do tempo que resistiu ao sonoro.

Jacques Tati é outro realizador/actor que tem grande influência nesta fase transitória entre o mudo e o sonoro trabalhando extraordinariamente esta temática, tendo uma fantástica particularidade a nível do som nos seus filmes. Entra no cinema sonoro onde explora inúmeros sons, sendo no entanto mais sons ambientes, praticamente sem falas. Estando fora do cinema mudo mas mais perto do que do falado, fez verdadeiros filmes sonoros mais especificamente no  sentido da melodia. Nos seus filmes os actores continuam a ser mais teatrais do que realistas.

Partindo desta intrínseca ligação entre o som e a imagem vou explorá-la através do cinema, da sua história, da transição entre o surdo e o falado e a forma como os actores a enfrentaram.

 

Bibliografia

João Mário Grilo, in “As lições do cinema: Manual de filmologia”, Lisboa, Edições Colibri, 2007

Jean-Louis Comolli, publicado em “Trafic” nº15, Verão de 1995
O Futuro do Homem

Oral History Interview with John Cage
May 2, 1974
Interviewer: Paul Cummings

John Cage’s “Autobiographical Statement“(1990).

Filmografia

“Singin’in the Rain”, (1952) realizado por Stanley Donen e Gene Kelly, escrito por Adolph Green e Betty Comden.

“The Jazz Singer”, (1927) realizado por Alan Crosland, escrito por Samson Raphaelson, Alfred A. Cohn e Jack Jarmuth.

“The Artist”, (2011) realizado por Michel Hazanavicius, escrito por Michel Hazanavicius.

“Play Time”, (1967) realizado por Jacques Tati, escrito por Jacques Tati, Art Buchwald e Jacques Lagrange.

“O Homem da Câmara de Filmar”, (1929), realizado por Dziga Vertov, escrito por Dziga Vertov.

“O Imigrante”, (1917), realizado por Charles Chaplin, escrito por Charles Chaplin, Vincent Bryan e Maverick Terrell.

“Sunset Boulevard”, (1950), realizado por Billy Wilder, escrito por Charles Brackett, Billy Wilder e D. M. Marshman Jr.


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