Draft – A música como ornamentação de realidades
Para a realização deste trabalho, pretendo debruçar-me sobre a perspetiva da organização do som, especificamente da composição musical para a imagem, cinematográfica e videográfica.
A música é capaz de criar todo o ambiente sonoro adequado ao decorrer da acção. Antes de o cinema ter composição sonora do cenário, dos acontecimentos dentro e fora de campo, de voz, etc., a música esteve presente quer ao vivo (orquestra de fosso), quer depois gravada e passada em sincronia com a película.
A música, mais do que os simples sons que permitem uma localização do espectador na observação da cena apresentada, ao invés do inicial ambiente sonoro que era tudo o que se ouvia dentro da sala de cinema (pessoas e máquinas), criou um envolvimento totalmente diferente da cena apresentada, sendo capaz de dar ênfase ao que as imagens mostram, de praticamente impor emoções mais fortes, de fazer as pessoas acreditarem ou duvidarem daquilo que viam, de modificar o contexto de um cenário ou de uma situação. A música poderá entender-se funcionar como uma espécie de quarta dimensão, que permite ao espectador um envolvimento maior e uma espacialização além do determinado por espaço e tempo, abrangendo também o emocional.
Dentro disto e apesar de poder completar o trabalho em torno com situações menos interligadas com estas, queria aprofundar duas questões em concreto que, pode dizer-se, são praticamente inversas:
- a primeira é sobre a existência de sons da cena, falas, etc. como parte integrante da música, invadindo essa área de forma a fazerem parte da composição musical composta; questiono-me sobre a possibilidade de alguns sons específicos serem o alicerce do qual nascem as músicas aplicadas à cena, numa tentativa de perfeita concordância entre os sons da cena e a melodia presente.
- a segunda questão prende-se com a limpeza de sons perante a existência de música numa cena, criando um vazio que marca fortemente as cenas em questão, provocando uma sensação quase paradoxal de vazio / preenchimento – vazio a nível emocional, preenchimento do espaço auditivo pela música, normalmente orquestral ou com canto numa voz calma e com poucas variações de altura. O espectador presta então mais atenção à música que, simultaneamente parece hipnotizar. Precisamente por isto é um tipo de situação utilizada em cenas em que as personagens estão psicologicamente atordoadas, seja positiva ou negativamente.
Para este trabalho, não me quero focar num filme especificamente, mas orientar-me mais para os compositores. Pensei em autores como Vangelis, Hans Zimmer, Angelo Badalamenti, Nicola Piovani entre outros e as suas intervenções em filmes como Blade Runner, 1492, Conquest of Paradise, Rain Man, Inception, Mulhohand Drive, Caro Diario e outros. O meu objetivo é analisar algumas cenas específicas em cada filme, que se encaixem naquilo que pretendo explorar no trabalho, podendo depois encontrar mais cenas de outros filmes que me interessem usar para o trabalho.