Ontem em Vila do Conde, nos encontros Derivas, organizados pela Circular, esquecemo-nos todos (eu incluído, ao que parece) da última palavra do título que dei à minha apresentação… Já não há um fora, aparentemente….
Sem esse esquecimento, talvez tudo tivesse ficado mais claro (menos sombrio) (-:
Deixo aqui a parte final da minha intervenção, que me parece abrir a brecha necessária:
Para mim, o gesto político mais radical já não se encontra nessa procura de um exterior, de um fora que parece já não existir, pelo menos enquanto modelo de contracultura; desse ponto de vista, já não há lugar para uma arte fora da arte e o modelo do artista como fora-da-lei parece ter-se esgotado; a estética venceu e está por todo o lado, ocupando todos os interstícios da realidade.
É pois no exercício quotidiano das nossas vidas que essa radicalidade de um gesto político continua a fazer sentido; e é aí que, por vezes, as nossas vidas se cruzam com a arte, constituindo a resposta possível a uma totalidade que nos parece recusar a utopia de um fora, o desejo de um fora daqui, de um outro lugar. Ora, é nesse devir-outro, nessa possibilidade irredutível de nos tornarmos um outro, de desejarmos uma outra coisa, aqui e agora, que reside ainda a radicalidade dos gestos, dos nossos gestos e dos gestos da arte.