Deep into the dark (Some notes on art practice)

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A  Conferência Dark Futures in Projection terá lugar na na Faculdade de Letras da UP, nos próximos dias 14 e 15 de Novembro.
A minha intervenção está marcada para sexta-feira, dia 15 de Novembro, às 11.30.

Deep into the dark (Some notes on art practice)
The underworld, with its caves, tunnels, mines, caverns or grottos has long been an inexhaustible source for fantasy and imagination. We all know quite well how these underground spaces can turn both into a refuge or a prison, a womb or a tomb, an entrance into a wonderful unknown or a descent to hell. In its dark corners lurk all sort of marvellous and terrible things, things able to surprise in many ways all those who have the courage to venture into the descent. Inside those holes the unknown is always a before and an after, a distant reality which mirrors our world, even if somehow detached from it.
Looking at the appeal such scenarios seem to play on the work of many artists, sometimes literally, in my talk I will try to approach this topic from the point of view of contemporary art practice.

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Conference Program: http://web3.letras.up.pt/darkfutures/userfiles/file/Dark-Futures-Programme.pdf

Dark Futures in Projection:
On the 60th Anniversary of the Publication of Ray Bradbury’s Fahrenheit 451
14-15 November 2013
The University of PortoPortugal

http://web3.letras.up.pt/darkfutures/

Ilfracombe Cave

Ainda a trabalhar em/Still working on: Deep into the dark (Some notes on art practice)

Ver/ see Dark Futures in Projection (On the 60th Anniversary of the Publication of Ray Bradbury’s Fahrenheit 451
14-15 November 2013)

Postcard: Ilfracombe Cave at Watermouth, Devon (1924?)
Photochrom

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Fantasmas

Os fantasmas não são apenas os espectros de pessoas ou animais desaparecidos que por vezes nos vêm visitar ou assombrar. Podem ser mais simplesmente uma visão que nos acompanha ou uma aparição que se forma a partir da força da nossa imaginação. Estes fantasmas — palavra que me serve aqui para designar toda uma família de entidades, dos espectros aos espíritos e outras aparições —manifestam-se aos vivos de forma visível ou através de outros sinais. Penso neles como personagens solitárias que escapam a todas as formas de representação. Aliás, a história dos fantasmas — se é que existe uma história que lhes seja própria — confunde-se com a história da representação e, em particular, com a história das imagens. Todos os fantasmas foram um dia perseguidos pelos fazedores de imagens, como se só a sua corporização em imagem, em coisa visível, pudesse confirmar a veracidade da sua existência.
Um bom exemplo desse conflito entre o visível e o invisível encontra-se na história das imagens técnicas modernas. A ilusão de uma neutralidade que seria própria dessas imagens, da fotografia ao cinema, da radiologia ao vídeo, entre tantas outras, alimentou o desejo de dar um corpo ao incorpóreo, de oferecer uma figura (de dar a ver) ao invisível.
Mas, na verdade, como dar um corpo a um espectro, como confirmar a veracidade de uma aparição fantasmática?

Desde a antiga catóptrica, essa ciência dos espelhos, que a produção técnica de imagens não deixou de se associar à invenção de fantasmas ou, pelo menos, à possibilidade de lhes dar um corpo, ainda que fugaz. Os reflexos e as sombras, as imagens projectadas ou, em geral, todos os dispositivos de ilusão ou fabricação ópticas foram sempre instrumentos importantes na criação de fantasmagorias. Do mesmo modo, é de também de fantasmas que falamos perante a mera suposição, tão pragmática e científica, de que possamos acordar o infinitamente pequeno do mundo microscópico ou as estrelas distantes — tão distantes que talvez já tenham desaparecido —, ou de dar a ver o mais recôndito do nosso corpo, como prometeu desde o início a radiologia. Esta última, alargada a uma refinada imagiologia médica que inclui a ecografia, a ressonância magnética ou a tomografia axial computorizada, parece tudo permitir, incluindo a revelação dos fantasmas mais secretos do nosso corpo, dando uma figura àquilo que não era mais do que coisa pressentida ou mero rumor interior. É assim que redescobrimos não apenas os órgãos que julgávamos conhecer mas sobretudo uma paisagem desconhecida e habitada pelos nossos próprios espectros.

Ora, falar de fantasmas é também pensar os seus lugares de eleição. Se os nossos fantasmas são antes de mais entidades que connosco partilham um mesmo espaço e, tantas vezes, um mesmo corpo, há depois todos esses outros fantasmas que parecem agarrados aos lugares que outrora habitaram. É talvez por isso que associo as casas-museus a lugares assombrados. Essas casas que preservam a memória de pessoas desaparecidas são uma espécie de monumentos funerários embora disfarçados de outra coisa, mausoléus repletos de objectos que aí foram depositados com a ideia de acordar os mortos. Julgar-se-ia pois que tais objectos, deixados em testamento com esse fim, se bastariam a si próprios como índices e prova de vida de gente há muito desaparecida. No entanto, os fantasmas têm vida própria e raramente respondem quando os chamamos e, nesse particular, dificilmente serão os objectos óbvios e inertes que preenchem tais mausoléus a cumprir esse desígnio. É preciso saber como acordar os fantasmas e trazê-los à nossa presença. Fazer regressar a estas casas-mausoléus os seus próprios fantasmas obriga a abri-las ao mundo exterior e a tudo aquilo que só os vivos sabem fabricar, respondendo aos fantasmas na sua própria língua: a língua assombrada das imagens e dos seus dispositivos técnicos, talvez a única língua capaz de os levantar da tumba…

Para a exposição da Bárbara Castelo Branco na Casa Oficina António Carneiro (Outubro de 2013)

Words that are strictly true seem to be paradoxical (remix)

“Words that are strictly true seem to be paradoxical (remix)” 2001
Colunas de som, ferro roscado, 4 CDs audio; loop sonoro (4 canais áudio).|8 boxes in colour plexiglas, 16 speakers, iron, 4 audio CD; sound loop (4 audio channels).

‘Obras da Coleção de Arte Contemporânea da Coleção da Portugal Telecom’, Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança, Abril 2013

“Words that are strictly true seem to be paradoxical (remix)” é um trabalho de 2001 que reinterpreta e remistura os materiais utilizados numa peça anterior, intitulada “Uma conversa taoísta entre os meus amigos Victoria e Bruce (NY, Nov. 2000)”.
A peça de origem era constituída por dois cubos construídos em acrílico  e sonorizados, os quais, suspensos do tecto, conversavam à vez entre si. O diálogo, baseado em textos clássicos do taoísmo fazia-se a duas vozes , uma feminina e outra masculina (os meus amigos Victoria e Bruce), cada uma em seu cubo. No chão, umas dezenas de bolas coloridas iam mudando de posição ao sabor da vontade dos visitantes.
Em “Words that are strictly true seem to be paradoxical (remix)” esta conversa entre a Victoria e o Bruce multiplica-se por quatros canais, sendo o som debitado por 16 altifalantes instalados em oitos calotes de acrílico colorido distribuídas pelo espaço. Tudo o resto resulta da vontade das máquinas, comandadas por um texto que já incorporava em si o elogio da aleatoriedade e o desejo da contradição.

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Cinemas 2 > Drive in

Garagem GAREPORTO – Rua José Falcão nº168, Porto

dia 4 de Abril, quinta feiras, às 21 horas

Bebidas e projecções
com André Sousa, Miguel Leal e Francisco Queimadela & Mariana Caló

A era das máquinas antecipou o cinema, a arte do motor por excelência. Falar de cinemas é por isso falar de motores, de máquinas. Na verdade, uma máquina está sempre ligada a outra e é dessa cadeia de ligações que resulta, em parte, o carácter imprevisível de todas as máquinas.

Foi a chegada do motor que fez as coisas, essas coisas inertes que nos rodeiam, entrarem definivamente no domínio do calor, que é, como sabemos, um dos atributos do vivo. Este Cinema 2 – Drive in leva-nos assim para um dos sítios onde as máquinas se sentem bem, e onde as máquinas do cinema encontram a cinemática dos motores. No piso subterrâneo da garagem iremos ouvir os motores em desaparecimento dos automóveis e iremos evocar os motores em devir do cinema…

…Down, down in the basement we hear the sound of machines
And I, I’m driving in circles
Come to my senses sometimes…
[Talking Heads, 1983)

 

Cartaz de Dário Cannatà

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